2003-09-29

SILÊNCIO



JPP continua a zurzir nas formas escolhidas pelos estudantes para protestar contra o aumento das propinas.

Não sei porquê, mas há alguma coisa que me diz ao ouvido, algum grilo transviado, que deve haver um traço esquisito num engenheiro de sistemas, num físico nuclear, num bioquímico, que não se importa de andar na rua, em público (que horror!), vestido de “estudante” oitocentista, na altura do varapau, das rixas, das esperas, dos bordéis canalhas, da contínua bebedeira, e, ainda pior horror, da poesia ultra-romântica.

Quanto ao conteúdo: um completo SILÊNCIO.

Contra factos…



Na sequência do meu comentário de 26-09 às recentes notícias sobre fraudes financeiras no Eurostat, Miguel esclareceu-me que:
Segundo os relatórios das entidades fiscalizadoras estas práticas podem ter-se continuado a verificar depois de 1999.

Agradeço a informação de possivelmente continuarem as más práticas. Aqui me penitencio e deixo o meu pedido de desculpas pela falta de rigor. Humildemente me curvo.

Mantenho que a publicação destes factos (ou da sua possibilidade) está ligada à actual conjuntura política italiana: Prodi será o opositor de Berlusconi para a próxima Presidência do Conselho em Itália. Ou será que ainda conseguem eliminá-lo à partida?

2003-09-26

Caro Kay,

O funcionamento ideal da democracia exige uma lista infindável de requisitos, entre os quais “estabilidade, riqueza e hábitos de liberdade (de discussão crítica, de debate livre)”. Concordo e aplaudo.

Mas, nesta perspectiva, democracia é aquele estranho e raro regime dos cidadãos livres ricos e desocupados de Atenas – sem escravos. Ou numa hipotética Inglaterra do século XIX – sem classe trabalhadora e sem sindicatos. Mas a política e a vida pública não são um jogo de diletantes ligeiramente entediados com esta súmula de reacções químicas que chamamos vida.

É a sério! Implica risco.

A Índia é uma democracia? E Moçambique? E o Brasil? E a Indonésia?

No caso do Iraque o terreno é ainda mais escorregadio. Pelo que pouco sei não existe nenhum movimento de matriz democrática, ou moderada e tolerante, na sociedade Iraquiana. Os ideais agregadores têm origem religiosa e étnica. Corre-se o risco de os populismos nacionalistas e/ou fundamentalistas considerem a democracia enquanto ganharem eleições. No dia em que saírem resultados os perdedores vão logo vilipendiar o processo. Vão dizer que as eleições foram manobradas, e que a democracia não se adapta à cultura iraquiana. Que foi uma falsificação imposta pelo opressor!

Por outro lado, pergunto-me se a potência administrante do território aceita correr o risco de ver os fundamentalistas chegarem ao poder por via democrática.

Cumprimentos,

Pepe

PS: Obrigado pelo iluminante comentário que me obrigou a aprofundar a minha opinião.
N' O Intermitente tomo conhecimento que:

Notícias de 2003 confirmam notícias de 1999: antes de 1999 houve "Fraude no Eurostat". Prodi ficou embaraçado.

Prodi ficou embaraçado por factos ocorridos no mandato do seu antecessor!? Factos esses que foram a razão da sua destituição e, indirectamente, da nomeação de Prodi? Não entendi o embaraço.

Será por Prodi ser um político italiano de esquerda que faz sombra a Berlusconi?
Será por Prodi ser o candidato natural da esquerda para a Presidência do Conselho, em Itália?

27 pilotos israelitas recusam-se a participar em ataques às populações palestinianas



HERÓIS OU DESERTORES?
Adivinhem a opinião do Sr. Ministro de Estado e da Defesa.

2003-09-25

Na Index on Censorship:

"Can a US imposed 'democracy' in Iraq prosper, while western governments mortgage the country's oil wealth to pay for a reconstruction they do not want to fund themselves? Can it survive when the implicit slogan for international relations is 'might is right'?" Abdul Mohammed & Alex de Waal provide a little clarity from a African perspective. The world, they warn, has reason to listen to Africa's hard-learned lessons that peace, democracy and development cannot be imposed by might.

Façamos uma viagem ao futuro.
Consideremos o cenário de democracia no Iraque.
Consideremos que foram cumpridas as etapas do Sr. Chirac.
Consideremos que os diáfanos movimentos democráticos do Iraque constituem base social de apoio suficiente a um regime político tolerante e respeitador das liberdades fundamentais.
Consideremos que a democracia iraquiana será um farol de esperança para os muçulmanos.

Quem ganha as primeiras eleições democráticas no Iraque? E se o vencedor não agradar ao Ocidente?

2003-09-24

Ainda o aumento das propinas!

Lembro-me que as propinas foram aumentadas quando andava na faculdade. Tal como agora o objectivo era financiar o investimento na melhoria das condições de ensino nas Universidades e concentrar o subsídio público nos estudantes que mais precisassem de apoio. Que pagasse quem podia! A propina era calculada com base no rendimento do agregado familiar. Pretendia o sistema ser um modo de discriminação positiva concentrando o esforço público no apoio aos cidadãos com reais necessidades.

O esquema teve uma enorme fragilidade, a base informacional na determinação do rendimento do agregado, na altura generalizadamente manipulada, a declaração anual do IRS.

Lembro-me de um colega meu que ficou isento de propinas, naturalmente porque fazia parte do grupo das famílias com menores rendimentos. Conduzia um Peugeot 205 RALLY! Coisas do passado, a manipulação das declarações dos rendimentos e a evasão fiscal.

Espero que na sua aplicação prática não seja, novamente, a perversão dos seus objectivos, reduzindo-se a um modo expedito de minorar o esforço público no financiamento das Universidades.
Enviada por de quem tudo prezo, recebi cópia da seguinte posta no Abrupto:

Fardados de estudantes, meia dúzia de dirigentes académicos de Coimbra foram entregar uma pilha de papel higiénico, equivalente ao valor das propinas que recusam pagar, em frente ao Ministério do Ensino Superior. É um bom retrato de como está a Universidade de Coimbra - os estudantes revêem-se elegantemente no papel higiénico como metáfora. Não lhes passa pela cabeça levar uma pilha de livros e dizer "estes são os livros que não posso comprar". Mas não. Eles acham que são irreverentes e engraçadinhos sendo ordinários, e esquecem-se que, no que deixam, se retratam a si próprios.

Para além disso, o tamanho da pilha mostra o valor ridículo do que teriam que pagar.


JPP critica aprofundadamente a forma do protesto dos estudantes. Curiosamente a análise do seu conteúdo resume-se a uma alusão ao “valor ridículo” das propinas.

O protesto dos dirigentes académicos foi infeliz na forma. O valor a pagar, não sendo ridículo, será bastante suportável pela maioria das famílias dos alunos.

Apesar de ter alguma resistência a qualificar de ridículo os valores das propinas que outros irão pagar - de finanças cada um sabe das suas - tenho de concordar com as palavras de JPP. E já somos dois!

2003-09-23

Amin Maalouf: Os jardins de luz


Conta a história de Mani – profeta da tolerância de etnia parta sob a dominação do império dos sassânidas. Conta a história da vitória da intolerância religiosa, da guerra. Descreve o choque de religiões: entre o cristianismo nascente, o zoroastrismo e o budismo.

O autor - libanês, com família árabe-católica – escreveu o livro em 1991, já o Líbano estava destruído.

Absolutamente actual.

2003-09-22

Relatório do Desenvolvimento Mundial 2004


(rascunho)

Prover os pobres de serviços básicos.



Os serviços básicos: saúde, educação, água - faltam aos mais pobres.
Isto significa uma falha dos Estados em servir, equitativamente, os interesses dos seus cidadãos.

Significará a falência dos estado providência? A alternativa é a iniciativa privada? O mercado? As ONG's?

É, decerto, um desafio.

2003-09-19

Com "A moda dos blogs", a siconline não podia ter encontrado melhor representante para a blogosfera: o blogue maravilha, que abruptamente foi apelidado de desinformação. Aquele que muita alma jurou não ler, não mencionar, não conhecer, t’arrenego Satanás!

Entrevistado o responsável pelo site, devidamente protegido pelo anonimato das fontes jornalísticas, e citado na siconline:
"O primeiro documento onde o GOVD (Grupo Operacional de Vigilância Democrática) se dava a conhecer, chegou-me, como todo o restante material, por carta, sem remetente. (…) como não sabia o que fazer com aquilo e como os blogues estão na moda, resolvi ir transcrevendo o que me fosse chegando para o (…)”

Fiquei a saber que o autor da prosa não é o responsável pelo site - um mero testa de ferro.

O Testa de Ferro afirma que não conhece o autor dos textos. Testa de Ferro que o jornalista conhece mas não identifica quem é, por anonimato da fonte. Muito conveniente, quando:
1. ou tudo o que é afirmado é verdade e consta do processo Casa Pia e estamos perante mais uma violação do segredo de justiça;
2. ou tudo o que é afirmado é verdade e não consta do processo. Então o autor não presta declarações às autoridades e fá-las constar? Porquê? E sendo verdade porque é que a primeira vez que aparece na imprensa é de este modo enviezado e turtuoso?
3. ou tudo o que é afirmado é mentira e a siconline acabou de dar relevo a quem não o merece.

Eventualmente com tantas ou mais dúvidas no seu íntimo quanto as minhas, o TESTA continua afirmando, não lhe venha o boomerang acertar na mona:
"Porque acho perigoso vir a pagar por uma coisa que não é da minha responsabilidade. Se viessem a perguntar-me quem está por trás disto teria de responder. Não sei. E embora respondesse com verdade, ninguém acreditaria".

Desculpe Sr. Testa Fonte Anónima, mas não foi a sua mãozinha que no seu ratito fez clique em “Publish”? OU foi uma presença que desceu em si?

E termino perplexo: qual foi o critério jornalístico para a publicação de "A moda dos blogs"?
O nome élfico do meu amor: Eámanë Inglorion
O nome hobbit do meu amor: Bramblerose Chubb-Baggins of Pincup


O meu nome élfico: Finwë Lúinwë
O meu nome hobbit: Sancho Tighfield of Tookbank


2003-09-18

Carox escreveu, eu cito:

"Hoje recebi um email com a mensagem que a seguir transcrevo.

Quantas vezes fazemos coisas sem pensar, só porque sim.

COMO NASCE UM PARADIGMA

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão.
Depois de algum tempo, quando um macaco tentava subir a escada, os outros enchiam-no de pancada.
Chegou a um ponto que nenhum macaco subia a escada, apesar da tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos.
A primeira coisa que o novo macaco fez foi subir a escada sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram.
Depois de algumas sovas, o novo membro do grupo já não subia a escada.
Um segundo foi substituído, e o mesmo aconteceu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na sova ao novato.
Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foram substituídos.
Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam a bater naquele que tentasse chegar às bananas.
Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria:
”Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui...”

De vez em quando, devemo-nos questionar porque fazemos algumas coisas sem pensar.

"É MAIS FÁCIL DESINTEGRAR UM ÁTOMO DO QUE UM PRECONCEITO"
(Albert Einstein)


Pensem nisso !!! ORA ESTA ...""

Portugal vive à beira-mar de costas voltadas para o interior.



Estranho este país, com todo o seu território a menos de 400Km do mar e tem interior. Mas tem-no. Brutalmente. Só que o interior português é social, económico, político, demográfico e cultural, nunca geográfico.

O interior português é tão interior que quando avançamos ainda mais para o interior passamos a fronteira e chegámos a outro litoral!

É esquecimento e abandono.

Fernando Madrinha considera-o uma derrota nacional. Eu também.

E acrescento: todas as medidas estruturais neste país favoreceram o litoral. Veja-se a actual divisão administrativa do país, a que verdadeiramente conta, as Regiões Plano. As que determinam a distribuição dos Fundos Comunitários.

Aveiro é igual à Guarda. Leiria a Castelo Branco. Porto e Braga a Vila Real e Bragança.

Está tudo dito. Os litorais desenvolvidos das regiões atrasadas absorvem a maioria dos Fundos Estruturais. Aprofunda-se o fosso intra-regional.

E a regionalização?

2003-09-16

No Público:

Fundo Monetário Internacional sugere flexibilidade do Pacto de Estabilidade



Não se pode afirmar que o FMI seja uma instituição com posições laxistas no campo de polí­tica macro-económica, principalmente orçamental. Por isso mesmo esta afirmação do seu director, Sr. Horst Koelher, ganha ainda mais impacto.

Lembre-se o seguinte: o défice em si tem o significado que tem! É a diferença, quando negativa, entre receitas e despesas.

Nas minhas finanças pessoais, há meses em que entro em défice, outros com superávite. O que me interessa é ter um percurso financeiro sustentável, de modo a não entrar em ruptura. Em momentos de necessidade entro alegremente em défice, compensando-o com superávites anteriores e posteriores. Esforço-me por não ser insistentemente deficitário para que os meus financiadores externos: família, amigos, bancos; confiem que eu vá pagar.

Para isso servem as políticas de contenção dos défices públicos. Para os financiadores acreditarem na sustentabilidade das finanças públicas. Os 3% e as sanções constituem um sinal para o exterior, como garantia de que os paí­ses EURO terão uma gestão cautelosa das finanças públicas.

No momento em que os membros nucleares da União: França e Alemanha; explicitamente afirmam que não cumprirão os limites impostos, o Pacto perdeu toda a credibilidade.

Por isso o Sr. Horst Koelher, director do FMI, põe o foco na implementação de políticas poupadoras no médio prazo, que garantam percursos financeiros sustentáveis e credíveis.

Para isso o défice deve ser ajustado à conjuntura.

Por isso o Estado Português, como seguidor no quadro da UE, irá flexibilizar a sua gestão orçamental. Resta saber quando e por quem.

E resta saber se implementará as medidas estruturais aconselhadas pelo Sr. Koelher.

2003-09-15

Who is Who?

Ele é imigração.

Ele é o preâmbulo da constituição.

Ele foge ao quotidiano.

Ele é profundo.

Ele não é a pequena política.
Recebi um mail que merece ser citado:

Afinal não é todos os dias que um brasileiro dá uma forte e educada nos americanos...

Durante um debate numa Universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, CRISTOVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia.

Um jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta, de um humanista e não de um brasileiro.

Esta foi a resposta do Sr. Cristovam Buarque: "De facto, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia.

Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado.

Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.

Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França.

Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano.

Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.

Não faz muito sentido, um milionário japonês, decidir enterrar com ele, um quadro de um grande mestre.

Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países, tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada.

Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade, assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife,Lisboa, cada cidade, com sua beleza especifica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA tem defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.

Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir a escola.

Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro.

Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo.

Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa.

Só nossa!