Caro Kay,
O funcionamento ideal da democracia exige uma lista infindável de requisitos, entre os quais “estabilidade, riqueza e hábitos de liberdade (de discussão crítica, de debate livre)”. Concordo e aplaudo.
Mas, nesta perspectiva, democracia é aquele estranho e raro regime dos cidadãos livres ricos e desocupados de Atenas – sem escravos. Ou numa hipotética Inglaterra do século XIX – sem classe trabalhadora e sem sindicatos. Mas a política e a vida pública não são um jogo de diletantes ligeiramente entediados com esta súmula de reacções químicas que chamamos vida.
É a sério! Implica risco.
A Índia é uma democracia? E Moçambique? E o Brasil? E a Indonésia?
No caso do Iraque o terreno é ainda mais escorregadio. Pelo que pouco sei não existe nenhum movimento de matriz democrática, ou moderada e tolerante, na sociedade Iraquiana. Os ideais agregadores têm origem religiosa e étnica. Corre-se o risco de os populismos nacionalistas e/ou fundamentalistas considerem a democracia enquanto ganharem eleições. No dia em que saírem resultados os perdedores vão logo vilipendiar o processo. Vão dizer que as eleições foram manobradas, e que a democracia não se adapta à cultura iraquiana. Que foi uma falsificação imposta pelo opressor!
Por outro lado, pergunto-me se a potência administrante do território aceita correr o risco de ver os fundamentalistas chegarem ao poder por via democrática.
Cumprimentos,
Pepe
PS: Obrigado pelo iluminante comentário que me obrigou a aprofundar a minha opinião.
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