2003-12-31

Primeiro tornou-se público o receio da comunidade financeira face às repetidas dificuldades em cumprir o pagamento de cupões de obrigações emitidas pela PARMALAT.

Em segundo é nomeado, por pressão dos credores, na maior parte investidores institucionais, gestor estranho ao núcleo familiar da administração. Torna-se pública a estranheza face à complexidade do modelo de financiamento, que origina dificuldades em cumprir as obrigações perante credores.

Em terceiro lugar é decretada a falência da Parmalat.

Curiosamente a Parmalat apresentou sempre resultados operacionais positivos, o negócio do leite e derivados dá lucro. A origem da falência está num enorme e continuado desvio de fundos, assim se suspeita, a favor do grupo que detinha o poder na empresa.

Mais um exemplo de gestão danosa, corrupção e falta de controlo – interno e externo – em grandes empresas multinacionais. Mais um exemplo de manipulação contabilística a favor de pequenos grupos, normalmente com o poder nas instituições. Pouco distingue estes senhores dos reizinhos de pacotilha de terceiro mundo: ricos, corruptos e incompetentes.

2003-12-30

um dos filmes que nunca vi


Mulholland Drive

Persegue-me interruptamente. A espassadas vezes, lá aparece ele, tantas foram as que prometi a mim mesmo que ia.

agora foi isto:

"Mulholand Drive", primeiro estranham-te, depois ninguem pode passar sem ti! Um misterio que vale a pena descobrir.

Se fosses um filme, que filme serias?
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E será que devo?

2003-12-29

Irão


O terramotos são fenómenos naturais. Ultrapassam a dimensão do humanamente aceitável. A magnitude dos seus efeitos, a sua difícil previsibilidade e a impossibilidade de manipulação humana tornam-nos enormes, assutadores.

São o exemplo da desumanidade da natureza e da fragilidade humana.

Em todas as catástrosfes, sofrem mais os menos preparados. Os que não podem viver em construções resistentes aos abalos, aqueles que só têm para viver no leitos de cheias, aqueles que moram nas encostas mais inclinadas e deslizantes.

Cruel é a omissão!

Cruel é não haver condições de melhorar as construções de adobe, de construir fora do leito do rio e sobre terra firme.

O terramoto é a terra a ondular.

2003-12-17

falta de fundações

JUSTIÇA



"Let's just see what penalty he gets, but I think he ought to receive the ultimate penalty ... for what he has done to his people,"
"I mean, he is a torturer, a murderer, they had rape rooms. This is a disgusting tyrant who deserves justice, the ultimate justice."

George Bush

Está perder-se a oportunidade para actuar com justiça, demonstrando uma das conquistas da civilização ocidental: a independência dos tribunais, o princípio do contraditório, a presunção de inocência. O Direito.

Pelo contrário, enveredou-se por um tortuoso caminho de interferência política, pelo Presidente dos EUA, pelos baronetes do novo poder iraquiano, e por quem mais não se sabe. Vaticínios e previsões acerca da sentença criam todas as dúvidas acerca do processo, enfraquecem o tribunal e os cinco juízes que o venham a constituir. Que a actual elite política iraquiana o faça é uma coisa, que a sua posição seja amplificada e reforçada pelas palavras do Presidente dos EUA é outra – muito maior.

O populismo radical, ocidental ou muçulmano, germina e cresce graças a situações pouco claras como a actual. George Bush, com estas palavras tornou credíveis acusações de interferência e de manipulação na nomeação dos juízes pelos Estados Unidos, que vão surgir certamente. Quando, e se, Saddam for julgado, bandeiras americanas serão, mais uma vez, queimadas no mundo islâmico. As chamas inflamarão a alma muçulmana.

Mais uma oportunidade perdida, para o ocidente demonstrar um futuro de justiça e ordem. Mais um argumento para a radicalização política do Islão.

E a aplicação da pena de morte está, infelizmente, nas bocas do mundo.

2003-12-15

Saddam


Não é, não foi, um herói do povo, qualquer ele que seja. Merece o nosso repúdio, o asco de quem não quer, nunca, ter de viver num país com um déspota autoritário e assassino.

Espero, desejo, que o não transformem num mártir, num futuro herói de um povo que se sente mártir.

Para isso deve ser julgado pelos seus crimes de forma exemplar. A forma exemplar de julgar obriga a que se crie um precedente de justiça, equilíbrio e ponderação. Obriga a que os iraquianos, e todos os seus irmãos muçulmanos, se sintam defendidos e vingados e não humilhados. Devem participar, e ver-se representados no julgador, nas regras do julgamento, nos procedimentos.

Pena é que os EUA não tenham aderido ao TPI. Seria a instituição certa para liderar este processo.

2003-12-11

Há momentos em que alguém escreve mais exactamente o que pensamos do que alguma vez pensámos chegar a escrever:

PORTUGAL NO SEU MELHOR

A crónica de hoje de Luís Delgado recebe este magnífico título: Portugal Melhor.
Não surpreende, não agita, não estranha, não regurgita, não treme, não faz tremer, não faz mossa, não nada...
Delgado, já se percebeu, é capaz de tornear todos os números e, pior que isso, tornear a realidade ou olhar para o lado, assobiar bem alto um fado sem uma nota só.
Delgado é uma espécie de cunha perpétua na opinião(?) jornalística(?), secretário vitalício dos interesses da direita, arauto sem espinha do neo-liberalismo e ultra-profeta da confiança.
Delgado é o super-homem luso, traz-nos a Mensagem.
Delgado é, pois, Portugal no seu melhor, todos os dias úteis, mais feriados semanais - mesmo religiosos e esquerdalhos. Delgado é a lapa cega.


No Soda Cáustica

2003-12-10

Mais uma mensagem de correio electrónico recebida:

Como manter um certo nível de insanidade...


1. No teu horário de almoço, senta-te no teu carro estacionado, põe os óculos escuros e aponta um secador de cabelos para os carros que passam. Vê se eles diminuem a velocidade.
2. Sempre que alguém te pedir para fazer alguma coisa, pergunta se quer batatas fritas a acompanhar.
3. Encoraja os teus colegas de sala a fazer uma dança de cadeiras sincronizada contigo.
4. Coloca a tua lata de lixo sobre a mesa e escreve nela "Entrada".
5. Desenvolve um estranho medo de agrafadores.
6. Põe café descafeinado na máquina de café por três semanas. Quando todos tiverem perdido o vício da cafeína, muda para café expresso.
7. No verso de todos os teus cheques escreve "Referente a suborno".
8. Sempre que alguém te disser alguma coisa, responde com "isso é que tu pensas".
9. Termina todas as tuas frases com "de acordo com a profecia".
10. Ajusta o brilho do teu monitor para que o nível dele ilumine toda a área de trabalho. Insiste com os outros que gostas assim.
11. Não uses pontuações.
12. Sempre que possível, pula em vez de andar.
13. Pergunta às pessoas de que sexo são. Ri histericamente depois delas responderem.
14. Canta na ópera com os actores.
15. Vai a um recital de poesia e pergunta por que é que os poemas não rimam.
16. Descobre onde é que o teu chefe faz compras e compra exactamente as mesmas roupas. Usa-as um dia depois do teu chefe as usar. Isto é especialmente efectivo se o teu chefe for do sexo oposto.
17. Manda e-mails para o resto da empresa para dizer o que é que estás a fazer. Por exemplo: Se alguém precisar de mim, estou na casa de banho, 3ª porta a esquerda".
18. Dispõe uma rede de mosquitos ao redor da tua secretaria. Põe um CD com sons da floresta durante o dia inteiro.
19. Quando sair dinheiro da caixa automática, grita.
20. Ao sair do zoo, corre na direcção do parque de estacionamento, gritando "Salve-se quem puder, eles estão soltos!".
21. Todas as vezes que vires uma vassoura, grita "Amor, a tua mãe chegou!".

2003-12-03

O voto do Governo Português a sancionar a suspensão da aplicação do procedimento de défice excessivo à França e à Alemanha tem razões que ultrapassam a evidente inabilidade política da Sra. Ministra das Finanças.

É coerente com o posicionamento de Portugal na comunidade internacional, desde que Durão Barroso tomou posse. Todas as grandes decisões do país em matéria de Negócios Estrangeiros, aquelas que sinalizam a estratégia para médio prazo, apontam para Portugal ser um pequeno país seguidor, de forma intransigente e dogmática, das posições dos grandes.

Recorde-se o apoio à aventura norte-americana de luta anti-terrorista nos Açores. Recorde-se o voto de apoio à fragilização do Pacto de Estabilidade pelos franceses e alemães. Em resumo, Portugal anda sempre à boleia dos grandes, não marca a mínima diferença.

O voto do Governo Português tem uma face de indesculpável cinismo. O Governo Português não tem força, nem vontade, nem confiança em manter os esforços de consolidação orçamental. Por isso deu o seu contributo, safando os grandes, na esperança de, quando falhar, estes o safarem a ele.

Na verdade, um acordo de cavalheiros.