2003-12-17

JUSTIÇA



"Let's just see what penalty he gets, but I think he ought to receive the ultimate penalty ... for what he has done to his people,"
"I mean, he is a torturer, a murderer, they had rape rooms. This is a disgusting tyrant who deserves justice, the ultimate justice."

George Bush

Está perder-se a oportunidade para actuar com justiça, demonstrando uma das conquistas da civilização ocidental: a independência dos tribunais, o princípio do contraditório, a presunção de inocência. O Direito.

Pelo contrário, enveredou-se por um tortuoso caminho de interferência política, pelo Presidente dos EUA, pelos baronetes do novo poder iraquiano, e por quem mais não se sabe. Vaticínios e previsões acerca da sentença criam todas as dúvidas acerca do processo, enfraquecem o tribunal e os cinco juízes que o venham a constituir. Que a actual elite política iraquiana o faça é uma coisa, que a sua posição seja amplificada e reforçada pelas palavras do Presidente dos EUA é outra – muito maior.

O populismo radical, ocidental ou muçulmano, germina e cresce graças a situações pouco claras como a actual. George Bush, com estas palavras tornou credíveis acusações de interferência e de manipulação na nomeação dos juízes pelos Estados Unidos, que vão surgir certamente. Quando, e se, Saddam for julgado, bandeiras americanas serão, mais uma vez, queimadas no mundo islâmico. As chamas inflamarão a alma muçulmana.

Mais uma oportunidade perdida, para o ocidente demonstrar um futuro de justiça e ordem. Mais um argumento para a radicalização política do Islão.

E a aplicação da pena de morte está, infelizmente, nas bocas do mundo.

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