2004-03-24

Europa



O atentado de 11 de Março e as eleições espanholas de 14 obrigam a um reposicionamento da União Europeia no mundo e a uma reflexão acerca do papel de cada um dos seus membros após o alargamento.

O terror da morte entranhou-se na vida dos cidadãos europeus e colocou o Médio Oriente ainda mais no centro das nossas preocupações. A paz com o mundo islâmico e entre os muçulmanos é, cada vez mais, um objectivo comum. Uma Europa escondida atrás de uma muralha de ferro é, ainda mais, impraticável, inconsequente e perversa.

Impraticável porque o diferencial de qualidade de vida, segurança e rendimentos entre as margens norte e sul do Mediterrâneo vale o risco da travessia, paga o custo de ser ilegal e compensa o desenraizamento de ser imigrante. Inconsequente porque quão mais distante e menos envolvida estiver a Europa do mundo islâmico maior será o mercado político de descontentes para os movimentos radicais e xenófobos - na Europa, entre os Muçulmanos e em Israel. Perversa porque sacrifica gerações de muçulmanos e de europeus - e de europeus muçulmanos - a esta guerrilha interminável, a esta meia paz, a esta desconfiança do outro. Perversa por em troca oferecer a cada um de nós uma amarga ilusão de justiça e vingança.

A vitória do PSOE é o início de uma viragem na política externa da Espanha, projectando-a no seio da União Europeia. Uma Espanha menos atlântica e mais continental reforça o aprofundamento das instituições da União e valoriza o processo Constitucional Europeu. O seu peso é suficiente para alterar as realação de forças, isolando a Polónia na sua recusa a constituição. Resolve-se o impasse. Avizinha-se um período de resoluções, de mudanças drásticas e imprevisíveis no seio da EU.

A conjuntura internacional é um desafio para os europeus, exigindo uma política europeia externa comum. O reposionamento espanhol é uma oportunidade para um acordo constitucional eficaz, justo e sustentável que a enquadre.

Pena é que os portugueses desconheçam as opções de política europeia. As posições do governo e da oposição e eventuais pontos de acordo e de desacordo são um mistério. Uma estratégia negocial portuguesa uma miragem.

E faltam dois meses para as eleições europeias.

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