2004-04-06

«(…) evitar que a futura Constituição europeia reduza em termos inaceitáveis os poderes dos parlamentos nacionais»

Estas palavras de Mota Amaral, a segunda figura da república, serão fim do silêncio, distraído, como que assobiando as melodias de outrora, acerca da estratégia nacional para a UE? Parece-me que não…

Enquanto todos estivermos de olhos postos no Iraque, na Palestina ocupada, no horizonte da retoma que não chega, em cartões amarelos empinados ao sol, na reforma da administração pública que rasteja e ofega, o poder foge-nos das mãos… Porque todas as inovações de representação indirecta e directa, de democracia de geometria variável, movimentos de base em rede alargada, de participação voluntária, da sociedade civil, das ONG’s, de interactividade mediada por máquinas, de fragmentação ou diferenciação social; não escamoteiam nem substituem o único momento de cidadania totalmente individual, equalitário e livre: o voto.

Com o voto branco, nulo ou válido o fraco, o pobre, o mediano, o pau-mandado, o ignorante, o zé-ninguém, o mal-cheiroso, o cego, o negro, o doente, o velho, o cigano, o faminto podem escolher e decidir. Nesse único momento cada um deles começa a exigir a vida melhor. Quando o voto não é um momento irrepetível, mas sim uma instituição, que constitui o modo de vida, mudam as condições e as aspirações para a vida de cada um. Neste sentido o voto é uma arma.

A redução dos poderes dos parlamentos é diminuir o poder dos povos.

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