2004-02-17

Tem-se associado a estagnação do emprego, mesmo em períodos de crescimento económico, o aumento do peso do desemprego de longo prazo, a redução da percentagem da população activa nos grupos etários intermédios ao mercado de trabalho na Europa.

Argumenta-se que a menor flexibilidade do mercado de trabalho é consequência da adopção de medidas de regulação e protecção social, comum nos países europeus. Falo do salário mínimo, do subsídio de desemprego, da protecção na doença obrigatória e universal, do apoio à maternidade e à paternidade, dos sindicatos, da limitação do despedimento… Falo dos pilares do Estado Providência.

Argumenta-se que impor tais custos ao empregador, dificultando ajustamentos da mão-de-obra ao ciclo económico, reduz a procura de trabalhadores. Por isso é sobrevalorizado o investimento em tecnologias substituidoras de trabalho. A solução, defende-se, passa por, facilitar o despedimento e reduzindo os ónus sociais sobre o empregador e tronar assim maior e mais ágil a procura de trabalho.

Em contraponto às dificuldades europeias é valorizada a experiência norte-americana. Com maior flexibilidade do mercado de trabalho, tem demonstrado níveis de desemprego mais baixos, períodos de busca de novo emprego mais curtos e uma maior participação no mercado de trabalho. Os resultados globais têm apontado para quebras do emprego mais pequenas, com recuperações mais rápidas e taxas de desemprego menores que na Europa.

A última publicação de estatísticas do emprego e salários nos EUA apresentam-se como nuvens de dúvida na clareza do panorama desenhado. Os números parecem europeus demais para a propalada flexibilidade norte-americana.

Só é considerado desempregado o cidadão em condições para trabalhar que procure activamente vaga adequada às suas competências profissionais. Para manter a percentagem de população activa - os empregados mais os que procuram activamente emprego – sem alterar a taxa de desemprego, deveria o nº de vagas criadas crescer ao mesmo ritmo dos 2% na população.

O nº de vagas disponíveis não tem sido suficiente para absorver o crescimento populacional verificado. A taxa de desemprego desceu para 5,6% não à custa de mais empregos, mas sim do aumento de cidadãos que deixaram sequer de procurar emprego.

Mais preocupante é o aumento sustentado da percentagem de desempregados de longa duração. A percentagem de desempregados que permanece nessa situação há mais de 15 meses é o máximo histórico dos últimos 30 anos: 40%. Este facto aparesenta uma assustadora coerência com crescente nº de americanos que se auto-excluem do mercado de trabalho ao desistirem de o procurar.

Faz-me pensar os EUA terem problemas semelhante aos europeus, mas com mecanismos de mercado mais flexíveis. Faz-me perguntar se os efeitos da liberalização do mercado de trabalho, em curso na Europa, serão mesmo os esperados.

Faz-me lembrar o quanto a realidade o mercado de trabalho se afasta do corpo axiomático das teses liberais.

fonte: Paul Krugman no NYtimes

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