2004-03-16

Do futebol


Na ânsia de vencer, apela-se aos instintos mais básicos sem cuidar da verdade da proporcionalidade e da justiça. Interessa a agressividade, a vingança, a ameaça... Após a derrota todas as justificações são válidas, desde a bola que é redonda até à relva que é verde e o árbitro que é ladrão e a sorte foi madrasta e...

Um jogo de futebol concentra, em momentos, as emoções básicas , o instinto de agressão, o gozo da conquista. Ritualiza-os. Faz parte da natureza do futebol esse discurso irracional, populista e manipulador que tantas vezes ouvimos nos seus dirigentes; que prolonga e amplia a participação e a partilha das emoções do jogo. Num jogo a fuga à realidade é aceitável, porque o próprio jogo é um escape ao quotidiano medíocre que a maioria de nós carrega.

Transpor esta gramática para a vida pública é demasiado perigoso.
Transformar uma sondagem em resultados da jornada do fim-de-semana, que se comentam à segunda, é redutor.
Fazer das eleições uma final da Liga dos Campeões é demagógico.
Comentar as decisões populares como se fosse o penalti mal marcado é manipulador.

A democracia merece mais...

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